A casa pirenopolina ( III )


“Uma ponte para o mundo goiano do século XIX: Um estudo da casa meia-pontense”(1), da escritora Adriana Mara Vaz de Oliveira, trata de um trabalho científico bem elaborado, que estudou a Pirenópolis do século XIX e XX, suas ruas, sua gente e, principalmente, suas casas. Cito aqui esse livro porque ele bem exemplifica a importância de se manter intacto o casarão pirenopolino, e não apenas preservar a fachada.

“A uniformidade das ruas estendia-se aos programas arquitetônicos das casas. As moradias de Meia Ponte, do século XIX, expressavam, no seu programa de necessidades, a continuidade do período colonial, ou seja, estão manifestas, ainda, a segregação feminina e o resguardo da família, colocando em instâncias diferentes os universos público e privado dentro da habitação. A casa dividia-se em faixas: na primeira, voltada para a rua, com iluminação e ventilação naturais, encontrava-se a área social, destinada às visitas estranhas à intimidade da família. A segunda faixa compreendia o setor íntimo, as alcovas, com acesso restrito aos da casa. Esses ambientes não recebiam iluminação nem ventilação diretas e abriam-se para outros cômodos. 'Eram os quartos mudos, escuros de mistérios' (Élis, 1983, p. 268).

“Na parte posterior da residência, encontrava-se a varanda, que se colocava como intermediária entre a parte íntima da casa e a de serviço. Nesse espaço concentravam-se os afazeres diários das mulheres, as refeições, o recebimento das visitas mais próximas, o estar da família e o repouso rápido na rede. Era o 'coração' da casa.” (…) (2)

“A ligação dos ambientes se fazia por meio de um corredor localizado no centro ou em uma das laterais da casa, dependendo do tamanho da residência. Ele iniciava na frente da casa, ou no limite da rua, e desembocava na varanda posterior. Nesse corredor existiam duas portas: uma, permanentemente aberta, dava acesso aos setores sociais da casa; a outra permanecia fechada e isolava a parte íntima da residência. 'E a porta do meio, (porta pesada do corredor calçado a laje, tramelão enorme de madeira), que porta danada de chiar!' (Élis, 1983, p. 268). Era um meio eficiente de comunicação entre a rua e o quintal, sem precisar passar pelos ambientes. Como as moradias eram geminadas dos dois lados, esse era o único caminho possível para o trânsito de serviçais, animais, mercadorias e outros”. (3)

A continuar assim a devastação do patrimônio histórico pirenopolino, com a preservação apenas da fachadas e derrubada do restante, num futuro próximo não será mais possível um estudo científico como o que fez a escritora acima citada, pois todas as casas serão iguais.

Pense nisso!


Adriano César Curado

(1) OLIVEIRA, Adriana Mara Vaz de. Uma ponte para o mundo goiano do século XIX: Um estudo da casa meia-pontense. Goiânia: Agepel, 2001.

(2) OLIVEIRA, Obra citada, p. 165.

(3) OLIVEIRA, Obra citada, p. 166.

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