Sobreviventes do ouro
As cidades históricas goianas são sobreviventes duma era de grande abundância, onde se sonhava com a riqueza fácil e com a possibilidade de retornar para casa com a bruaca abarrotada. Note que até hoje as pessoas do Planalto Central do Brasil guardam aquela sensação de que estão sempre de partida. Você pode constatar isso na quantidade de imigrantes que vão para o exterior, ou de moradores do interior que procuram os grandes centros urbanos. Há uma inquietação irritante das gentes descente do ouro. E isso não acontece somente em Goiás, pois Minas Gerais, por exemplo, tem na cidade de Governador Valadares o sinônimo da clandestinidade lá fora.
No intuito de tratar apenas de Goiás, relembro que, quando as primeiras minas foram aqui descobertas, acorreu para estas paragens uma quantidade incontável de portugueses e paulistas, todos movidos por aquela ambição desenfreada que logo se transmudou em ganância. E em nome da ganância praticaram-se aqui as mais execráveis atrocidades, principalmente em relação aos índios, os legítimos habitantes destas terras. Na mente coletiva daqueles primeiros habitantes reinava apenas um pensamento: enriquecer logo e voltar para casa.
No específico caso de Pirenópolis, sua fundação e colonização se deu por portugueses, pessoas que deixavam para trás família, bens e títulos, no único intuito de deparar com uma jazida milionária em terras goianas, fazer fortuna fácil e retornar triunfante para casa. Note quantos milhões de pessoas passaram por Goiás no auge da mineração e compare com o pouco que restou no transcorrer do século XIX. Para onde foi essa gente toda? Voltou para sua família. Pouquíssimos se dignaram a ficar por aqui, embora já não houvesse a abundância do ouro e rei de Portugal relegasse a Província ao descaso absoluto.
Todos nós que nascidos no centro do Brasil somos sobreviventes do ouro. Em nossas veias ainda corre o ímpeto dos primeiros habitantes, nossos ancestrais ambiciosos e arrojados, que ousaram sonhar com uma fortuna tão grande que seria capaz de manter incontáveis gerações. Não foram poucos os que conseguiram enriquecer a si e a Portugal, para depois retornar pelas velas duma caravela às terras de além-mar. Desses nunca mais tivemos notícias por aqui. Mas alguns também decidiram permanecer nas terras dos extintos Goiases e fundar arraias, e erigir templos suntuosos e casarões de taipa-de-pilão e pau-a-pique. São os grandes patriarcas goianos.
Se você é filho deste chão duro do cerrado e corre em suas veias o ímpeto de desbravar horizontes e conquistar fortunas nunca antes imaginadas, então sabe exatamente o que digo nesta linhas. Não se preocupe com essa boa ambição, pois ela é a herança que você recebeu dentro do seu gene e que sempre o impulsionará para aventuras por mares nunca antes navegados.
by Adriano César Curado
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