Recentemente o Jornal OPOPULAR lançou uma série de reportagens sobre a preservação do patrimônio histórico e arquitetônico de Goiás. Fizeram pesquisa em diversas cidades históricas goianas e constataram um verdadeiro abandono dos prédios centenários, que testemunharam vários episódios de nossa história.
Pirenópolis não foi incluída na série. Perguntei o motivo a mim mesmo e cheguei à conclusão de que seu patrimônio histórico é considerado preservado e, portanto, não justificaria uma reportagem ali, dentro dos fins visados pelo projeto.
Farei agora um parêntese aqui para contar um episódio ocorrido recentemente. Nosso casarão histórico em Pirenópolis fica na praça Central, detrás da cópia da igreja Matriz, e foi construído em meados do século XIX. Na época da sua construção, obviamente, Pirenópolis era bem diferente. Na verdade nem se chamava Pirenópolis e, sim, Meia Ponte. Não havia ali caminhões no transporte de pesadas cargas de pedra, som automotivo de infernais decibéis e grande vibração, aviões supersônicos com seus estrondos medonhos e nem dinamites nas pedreiras.
Desta forma, os casarões foram erigidos com o material da época, apropriados para o fins a que se destinavam as construções, e resistentes à intempéries e tiros de toco por ocasião das festanças do Divino, os únicos males capaz de desafiá-los. Com o passar do tempo e a chegada do progresso, as coisas mudaram bastante. Primeiro veio a “descoberta” do turismo local, com uma verdadeira invasão de candangos, pessoas com bastante dinheiro para adquirir antigas casas, e a conseqüente especulação imobiliária. Comprar um casarão em Pirenópolis virou algo impraticável, fora de qualquer lógica, e seduziu os antigos moradores, filhos das famílias tradicionais, a vender seus imóveis herdados.
Os “de fora” que adquiriam as velhas casas no centro histórico, na verdade, só tinham um objetivo: ter uma residência de temporada para aproveitar as cachoeiras nos fins de semana ou hospedar familiares e amigos durante as festas populares. Logo de cara depararam com um problema sério, referente à estrutura primária do prédio, em sua maioria de pau-a-pique, adobe e esteios de aroeira. Acharam feio as paredes tortas, os portais e janelas fora do prumo e as telhas desalinhadas e quase esquálidas. Resolveram então derrubar tudo e reconstruir “igualzinho” o original, só que com tijolo comum , vigas de concreto, cerâmica etc. Adeus aos adobes, baldrames e esteios de aroeira, tábuas nos assoalhos ou tijolos à serventia de piso.
Volto agora ao casarão da minha família. Depois de sofrer com trânsito pesado de caminhões, vibração de som automotivo e até com a vizinhança de uma boate, o velho prédio não agüentou e começou a trincar, suas paredes ameaçaram desabar. Procurei um arquiteto local e ele fez um triste diagnóstico: melhor derrubar tudo! Eu argumentei que a construção era muito velha, com paredes de pau-a-pique. Mas ele contra-argumentou dizendo: é só reconstruir parecido e a fiscalização não incomoda. Por fim ele me definiu o que se entende por ali sobre casarão histórico: “é uma porta e duas janelas quadradas”. Não concordei e contornamos os problemas mais imediatos da casa, sem precisar lançar mão da medida radical sugerida pelo arquiteto.
Volto agora à série de OPOPULAR e indago se Pirenópolis também não merecia uma reportagem. Sim, pois boa parte do seu patrimônio histórico já foi destruído, edifícios monumentais e cheios de lembranças, que agora se substituem por casas “parecidas” mas sem a originalidade do passado. Imagine daqui a cem anos (se é que essas novas casas durarão tanto!), quando um historiador se dispuser a estudar o material usado na construção dos casarões de Pirenópolis. Ficará confuso e perdido ao descobrir que, em pleno século XIX, Meia Ponte já usava tijolo furado, vergalhão, cerâmica tingida e concreto.
Na última reforma do prédio do Teatro de Pirenópolis, descobriu-se que suas paredes estavam infestadas de cupim, então foi necessário derrubá-las e reconstruí-las com tijolo comum, já que o fabrico do adobe, naquelas circunstâncias, extrapolaria o custo da obra. Não haveria verbas. Isso é até aceitável, dado às circunstâncias. Porém derrubar o que já está bom por puro valor estético é desprezar o passado e afrontar as gerações que ainda virão.
Pirenópolis não foi incluída na série. Perguntei o motivo a mim mesmo e cheguei à conclusão de que seu patrimônio histórico é considerado preservado e, portanto, não justificaria uma reportagem ali, dentro dos fins visados pelo projeto.
Farei agora um parêntese aqui para contar um episódio ocorrido recentemente. Nosso casarão histórico em Pirenópolis fica na praça Central, detrás da cópia da igreja Matriz, e foi construído em meados do século XIX. Na época da sua construção, obviamente, Pirenópolis era bem diferente. Na verdade nem se chamava Pirenópolis e, sim, Meia Ponte. Não havia ali caminhões no transporte de pesadas cargas de pedra, som automotivo de infernais decibéis e grande vibração, aviões supersônicos com seus estrondos medonhos e nem dinamites nas pedreiras.
Desta forma, os casarões foram erigidos com o material da época, apropriados para o fins a que se destinavam as construções, e resistentes à intempéries e tiros de toco por ocasião das festanças do Divino, os únicos males capaz de desafiá-los. Com o passar do tempo e a chegada do progresso, as coisas mudaram bastante. Primeiro veio a “descoberta” do turismo local, com uma verdadeira invasão de candangos, pessoas com bastante dinheiro para adquirir antigas casas, e a conseqüente especulação imobiliária. Comprar um casarão em Pirenópolis virou algo impraticável, fora de qualquer lógica, e seduziu os antigos moradores, filhos das famílias tradicionais, a vender seus imóveis herdados.
Os “de fora” que adquiriam as velhas casas no centro histórico, na verdade, só tinham um objetivo: ter uma residência de temporada para aproveitar as cachoeiras nos fins de semana ou hospedar familiares e amigos durante as festas populares. Logo de cara depararam com um problema sério, referente à estrutura primária do prédio, em sua maioria de pau-a-pique, adobe e esteios de aroeira. Acharam feio as paredes tortas, os portais e janelas fora do prumo e as telhas desalinhadas e quase esquálidas. Resolveram então derrubar tudo e reconstruir “igualzinho” o original, só que com tijolo comum , vigas de concreto, cerâmica etc. Adeus aos adobes, baldrames e esteios de aroeira, tábuas nos assoalhos ou tijolos à serventia de piso.
Volto agora ao casarão da minha família. Depois de sofrer com trânsito pesado de caminhões, vibração de som automotivo e até com a vizinhança de uma boate, o velho prédio não agüentou e começou a trincar, suas paredes ameaçaram desabar. Procurei um arquiteto local e ele fez um triste diagnóstico: melhor derrubar tudo! Eu argumentei que a construção era muito velha, com paredes de pau-a-pique. Mas ele contra-argumentou dizendo: é só reconstruir parecido e a fiscalização não incomoda. Por fim ele me definiu o que se entende por ali sobre casarão histórico: “é uma porta e duas janelas quadradas”. Não concordei e contornamos os problemas mais imediatos da casa, sem precisar lançar mão da medida radical sugerida pelo arquiteto.
Volto agora à série de OPOPULAR e indago se Pirenópolis também não merecia uma reportagem. Sim, pois boa parte do seu patrimônio histórico já foi destruído, edifícios monumentais e cheios de lembranças, que agora se substituem por casas “parecidas” mas sem a originalidade do passado. Imagine daqui a cem anos (se é que essas novas casas durarão tanto!), quando um historiador se dispuser a estudar o material usado na construção dos casarões de Pirenópolis. Ficará confuso e perdido ao descobrir que, em pleno século XIX, Meia Ponte já usava tijolo furado, vergalhão, cerâmica tingida e concreto.
Na última reforma do prédio do Teatro de Pirenópolis, descobriu-se que suas paredes estavam infestadas de cupim, então foi necessário derrubá-las e reconstruí-las com tijolo comum, já que o fabrico do adobe, naquelas circunstâncias, extrapolaria o custo da obra. Não haveria verbas. Isso é até aceitável, dado às circunstâncias. Porém derrubar o que já está bom por puro valor estético é desprezar o passado e afrontar as gerações que ainda virão.
Adriano César Curado
27 de novembro de 2007
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