Em
1972, o então candidato à reeleição para a presidência dos EUA,
Richard Nixon, mandou grampear o escritório do partido democrata.
Nixon obteve uma esmagadora vitória e, dois anos depois, provado o
envolvimento no caso, foi obrigado a renunciar.
O
caso Watergate é, até hoje, uma enorme mancha na história dos
Estados Unidos, e um símbolo de como o poder público pode e é
usado para fins particulares.
Quarenta
anos depois vem à tona, num espetacular furo do jornal inglês The
Guardian, que o governo dos Estados Unidos desenvolveu uma ferramenta
(PRISM), com a anuência das grandes corporações das comunicações
globais, que monitora, fiscaliza, bisbilhota, espiona toda a
comunicação que passa estas corporações. Emails, posts,
celulares, sms... o governos dos EUA tem acesso a tudo.
Segundo
o jornal, isso vem ocorrendo desde 2007, sob o governo do republicano
Walker Bush, e teria aumentado sob o democrata Obama.
Há,
portanto, seis anos o PRISM vem violando privacidades e liberdades
civis em todo o mundo em nome de uma pretensa segurança dos
EUA. Tudo
em nome da Guerra ao Terror.
Neste
mapa vemos claramente onde se concentra a atuação dos EUA na
busca por dados privados. Em vermelho as maiores buscas, em verde as
menores (reparem nos próprios Estados Unidos).
Qual
a diferença entre Nixon e a dupla Bush-Obama, além da enorme
capacidade de coletar os dados?
A
primeira vista parece óbvio. Nixon agia apenas para si,
bisbilhotando o adversário; a dupla Bush-Obama vigia a internet para
o bem de todos, contra o terrorismo global.
Será?
“Terrorismo”
é um
conceito político, sem muita capacidade descritiva.
É apenas uma maneira de um grupo político excluir a legitimidade de
outro grupo, como bem sabia Margareth Thatcher que, em defesa dos
interesses ingleses na África do Sul do apartheid, afirmava que
Nelson Mandela era terrorista.
O
PRISM, a coleta de dados global para o governo dos Estados Unidos, em
nada tem a ver com terrorismo ou segurança. É pura espionagem, é
forma de controle, e em dois sentidos.
O
primeiro, mais óbvio, é a invasão de privacidade. Emails,
documentos, fotos trocadas entre duas pessoas podem estar agora
divertindo um burocrata qualquer, que ri às nossas custas. Dados
privados nas mãos de um governo que sabe, exatamente, quem você é,
o que faz, o que gosta, com quem se relaciona, o que compra, quais
sites mais visita.
O
segundo, e tão perigoso quanto, diz respeito a trocas de informações
corporativas e governamental por servidores que se abriram ao governo
dos EUA. Estas podem balizar políticas econômicas e comerciais dos
Estados Unidos, podem fazer com que ele tenha acesso a segredos
militares, a estratégias internacionais, pautas de negociações de
política externa e segredos de embaixadas. Em suma, é um atentado à
paz internacional.
Os
Estados Unidos, munidos de todas as comunicações, passa a ter um
controle irrestrito sobre países e pessoas.
O
PRISM é uma tentativa de construir uma nova hegemonia global. Nesta,
caem por terra toda e qualquer privacidade que supúnhamos ter.
A
dupla Bush-Obama, sempre em nome de uma segurança (ah, o último
refúgio dos canalhas) levou o governo a um patamar jamais tentado.
Para eles, todos os cidadãos são suspeitos de um crime que não
conseguimos saber qual.
Não
é o pesadelo distópico de 1984 que enfrentamos; é a realidade nua
de Josef K (aliás, já testada e aprovada em Guantánamo e outras
prisões 'escuras' pelo mundo) . Que isso não cause celeumas e
crises, pressões, renúncias é bem revelador da realidade em que
vivemos.
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