PIRENÓPOLIS E A FESTA DO DIVINO


Pirenópolis, plácida cidade

de vetustas igrejas, seculares,

goza de edênica tranquilidade

entre jardins mimosos e pomares.


Silente e calmo vai passando o dia

enquanto, quieto, o povo seu labuta.

E na mudez que o espírito alivia,

alguma voz de pássaro se escuta:


foto-pagou – em cima do telhado,

bem-te-vi – na rama do coqueiro.

E lá na torre do sino compassado

fere o tempo, sem dó, o dia inteiro.


Mas quando chega a festa do Divino,

é que se vê a animação do povo:

costureiras folheiam figurinos

e casa moça quer vestido novo.


Cedinho se ouve o ronco da zabumba

– tradição que não fica esquecida

e também a roqueira que retumba

nos cantos da cidade adormecida.


Começam as novenas fervorosas

e a Matriz se aprimora em luz e flores.

Pelos altares, os jasmins e rosas

misturam com o incenso seus olores.


Terno, o Hino do Divino, comovente,

na alvorada se escuta com emoção,

ascendendo um fervor em toda gente

e despertando uma recordação.


Mascarados de pândegas proezas

põem em polvorosa a meninada...

Não existe lugar para as tristezas

durante essa festiva temporada.


Na hora das brilhantes Cavalhadas

cristãos e mouros passam imponentes

com as lanças de fitas enlaçadas,

capacetes e espadas reluzentes.


E pelas ruas vão-se desfilando

– ruas com bandeirolas enfeitadas,

enquanto seus cavalos empinando,

tiram chispas de fogo nas calçadas.


Meninos passam a assoviar, ligeiros

com doces e confeitos em pacotes,

biscoitos e pastéis nos tabuleiros

que vão levando para os camarotes.


Terminadas que são as Cavalhadas

e o reinado dos reis e rainhas,

há mais duas esplêndidas noitadas

das lindas e graciosas Pastorinhas.


E para completar tantas belezas

dessa festa atraente e decantada,

há a boia farta e as vinte sobremesas

da Pensão Padre Rosa, tão falada.


Finda a festa, o sossego prazenteiro...

Na torre – o sino grave, compassado;

bem-te-vi na ramagem do coqueiro;

fogo-pagou – em cima do telhado...



Poema de autoria do poeta pirenopolino Euler de Amorim, de saudosa memória, publicado no livro “Pirenópolis em Versos”, Edição do autor, 2002, ps. 15/6.



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