Festa do Divino 5

Teatro Sebastião Pompeu de Pina
Noite de apresentação de As Pastorinhas
Foto: Luís Eduardo Barros Ferreira



Não há como falar sobre a Festa do Divino de Pirenópolis sem mencionar a peça teatral As pastorinhas. Isso pelo fato de sua importância rivalizar até com as Cavalhadas em grandeza e respeito. Constitui até hoje uma honra imensa para qualquer família pirenopolina, habitem seus membros ou não na cidade, ter uma moça nos quadros dessa peça singular. Eu mesmo, no início da década de 1990, participei da encenação ao interpretar o personagem Lusbel, que era um demônio. Atualmente a peça está sob a responsabilidade do casal dona Ita e seu Alaor de Siqueira, violinistas de primeira linha, que de tão simpáticos e competentes já se tornaram ícones da cidade. Merece destaque também a pessoa de Pompeu Cristóvão de Pina, já velho e doente, mas ainda assim persistente no papel de Simão Velho, baluarte da resistência cultural de Pirenópolis.

A origem de As pastorinhas é bastante interessante. Apareceu em Pirenópolis um senhor chamado Alonso Telegrafista, que trouxe consigo do nordeste um teatro de revista (peça dançada e cantada) e manifestou a intenção de sua encenação na cidade. Ao mostrá-la ao maestro Joaquim Propício de Pina, este se apaixonou pelas composições que a acompanhavam, mas observou que precisavam ser orquestradas (distribuição da harmonia entre diversos instrumentos). Não foi fácil convencer Alonso de que a orquestração enriqueceria demasiadamente as músicas, pois ele tinha verdadeiro ciúme do material, e inclusive já havia avisado que não o disponibilizaria para cópias, pois pretendia partir breve e levaria consigo tudo que trouxera. Depois que o grande maestro, fundador da Banda de Música Fênix, deu-lhe uma demonstração de como ficariam as árias após orquestradas, Alonso concordou. Então Propício de Pina resolveu ludibriar Alonso e varou madrugadas na execução dum plano – enquanto orquestrava a peça, fazia para si uma cópia de tudo que produzia. Nesse meio tempo, José Assuério se prontificou junto a Alonso em dividir a fala dos personagens, para facilitar a vida dos atores, embora na surdina também fizesse uma cópia para si.

Chegou o Natal de 1922, a peça foi encenada com grande louvor, Alonso ficou emocionado, agradeceu, recolheu todo o material e tempos depois foi-se embora para sempre. Dele nunca mais se teve notícias da terra dos Pireneus. E jamais desconfiou das artimanhas dos pirenopolinos.

Fato é que, no ano seguinte, o Divino “escolheu” Propício de Pina para imperador e este não teve dúvidas em ensaiar As pastorinhas para abrilhantamento de sua festa. Promoveu ele também o peça teatral Morgadinha. Em complementação de As pastorinhas, Propício compôs três maravilhosas músicas para personagens infantis denominados “Fé”, “Esperança” e “Caridade”, que acabaram incorporadas para sempre ao teatro de revista.

Os detalhes sobre a primeira apresentação da peça As pastorinhas está gravado numa série de depoimentos que fiz com pessoas idosas de Pirenópolis, a maioria já falecida, e que pretendo tornar públicos no futuro.

Bibliografia:
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Divino, o santo e a senhora. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.
CARVALHO, Adelmo. Pirenópolis, coletânea 1727-2000, história, turismo e curiosidade. Goiânia: Kelps, 2000.
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971.


by Adriano César Curado

Um comentário:

Anônimo disse...

É massa demais a gente acompanhar esse seu blogue, pq todo dia tem uma novidade boa, tem uma informação que a gente não sabe direito, mas que pode ser útil.
Bjim.

Amanda Pires

amandinha16@hotmail.com