Festa do Divino 10

Vista no início da rua do Rosário

Pirenópolis em 2009

Foto: Arquivo da Biblioteca Pyraí

A festa do Divino de Pirenópolis passou por muitas crises recentes, algumas imensas e perfeitamente evitáveis, outras fruto dos tempos modernos.

Entre as crises evitáveis está a ida para Pirenópolis de padres despreparados, sem prévio estudo das tradições locais e que por isso decidiram palpitar na parte profana da festa. Chegou-se ao absurdo de proibir o imperador de adentrar na Matriz com a coroa na cabeça e de chamar de idólatra o povo que cultuava o Divino na forma tradicional.

Depois veio a interferência direta nos sorteios, de forma que só poderiam se candidatar aqueles escolhidos diretamente pelo sacerdote. Com isso a população se afastou e a festa outra vez entrou em declínio. Seguiu-se uma série de imperadores de faz de conta que somente participavam da parte religiosa da festa. A parte profana ficava por conta do governo do Estado, da prefeitura e dos pirenopolinos.

O resultado disso tem reflexo até hoje, e basta constatar pela insignificante quantidade de gente que acompanha o cortejo do imperador no domingo do Divino. E olha que esse momento da festa já foi disputadíssimo, com longas fileiras de mocinhas vestidas de branco e logo atrás significativa procissão de devotos. Agora quase ninguém mais vai, à exceção dos familiares do imperador.



Recentemente a Igreja se conscientizou da importância de deixar que o próprio pirenopolino tome conta de sua festa. O novo sacerdote, que se mudou para a cidade, ainda não enfrentou o desafio duma festa do Divino, mas parece pessoa sensata, que sabe ouvir conselhos, e conta com um indiscutível carisma.



Entre as crises resultantes dos tempo modernos, poderia destacar aqui a limitação cada vez maior da participação dos mascarados na festa. Antigamente eles adentravam no campo com carros (geralmente Jipe ou Rural), em cujos para-choques amarravam uma corda com pneus – e lá iam eles arrastados entremeio patas de cavalos. Naquela época também era comum portarem armas com tiros de festim, subir nas calçadas e até sair pela cidade em desabalada correria. Agora nada disso é mais possível, e por qualquer coisa um mascarado é apeado e preso. Sua entrada no campo ficou restrita aos poucos intervalos das Cavalhadas e assim mesmo por breves instantes. Como consequência, o número de mascados diminuiu assustadoramente, e temo que acabe em breves tempos.



Aqui cabe uma indagação: qual o futuro da Festa do Divino de Pirenópolis? Será que ela voltará ao explendor de outrora ou sucumbirá de vez, quando as novas gerações tiverem de assumir o papel que herdaram dos antepassados? É uma pergunta que não sei responder. Somente o tempo trará a verdade.



by Adriano César Curado