Toda vez que vou a Pirenópolis gosto de conversar com as pessoas. Cada uma tem uma história interessante que pode contribuir para o nosso aprendizado de vida. Quando converso com um morador da cidade, geralmente ouço fatos relacionados com seu cotidiano, tais como a preocupação com a nova administração municipal, a diminuição das águas do Rio das Almas etc. Já o turista se preocupa com um bom atendimento no hotel ou no restaurante, com o preço para se freqüentar as cachoeiras e por aí vai.
Num ponto, no entanto, tanto turistas quanto moradores são consenso – o prejuízo que o som automotivo trás para a cidade. Às vezes as pessoas me questionam porque eu insisto nesse assunto. Talvez elas tenham razão, eu deveria mesmo é cuidar da minha vida em vez de perder tempo com isso. Mas a cada retorno a Pirenópolis, sou acordado bruscamente no meio da noite com um som altíssimo e sacana, então vejo que ainda não é o momento de abandonar esse assunto.
O som automotivo é uma novidade dos tempos modernos. Até há pouco não havia essa modalidade de diversão, e no máximo os carros possuíam um alto-falante que se colocava em cima do capô e que parecia o som duma caixa de marimbondos. Era um barulhinho irritante mas que pouco incomodava, dado ao seu insignificante alcance. De uns tempos para cá, no entanto, a tecnologia criou potentíssimos amplificadores sonoros, que são capazes de ocupar espaços ínfimos, como o porta-malas de um carro. O preço do produto também barateou e proporcionou que pessoas de diferentes classes sociais pudessem adquiri-lo em parcelas a sumir de vista. Não raro, o automóvel vale menos que o equipamento sonoro.
O resultado disso foi o surgimento de campeonatos de som, pois não basta ter um desses equipamentos sofisticadíssimos (é claro!) tem-se que mostrar aos outros a potência do seu material. É mais ou menos como tentar compensar alguma frustração ou complexo da personalidade.
Bom, mas voltemos ao tema.
Nada há de errado nos campeonatos de som automotivo. É uma diversão como outra qualquer e as pessoas têm o direito de manifestação. O problema nasce justamente do contraste entre o direito de ouvir som e o direito dos que querem descansar. É isso mesmo. Nem todos desejam desfrutar do gosto musical daqueles que tem sons potentíssimos nos veículos, e então surge o conflito de interesses entre esses dois grupos.
Nos grande centros, por exemplo, para evitar que a fiscalização da postura apreenda o equipamento sonoro, os amantes do som automotivo têm lugares específicos para tocar, geralmente numa área mais isolada ou com proteção acústica. Dessa maneira ninguém sai prejudicado e todos se divertem de forma civilizada e evoluída.
Em Pirenópolis, no entanto, o “agito” acontece em plena Praça Central, lugar onde estão os casarões coloniais seculares habitados por pessoas idosas, além de diversos hotéis e pousadas, a Igreja Matriz e o teatro. Por conta do entusiasmo de alguns, a maioria é severamente castigada. E eu pergunto: isso é justo? Qual o futuro queremos para nossa querida cidade?
Pirenópolis é um lugar abençoado por Deus, com clima gostoso, natureza exuberante, folclore rico e diversificado, além de ser atrativo constante aos turistas. Se tudo isso não for preservado de forma conveniente, nosso futuro estará comprometido. Então deixemos de lado o individualismo egoísta, para assim aprender a conviver em sociedade, de forma harmoniosa e pacífica.
ADRIANO CÉSAR CURADO
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