O que caracteriza a autenticidade da casa pirenopolina é o uso das técnicas de construção da época do imóvel. O emprego de madeiramento tosco, lavrado sem o auxílio de serras elétricas. Os muros velhos de adobe que serpenteiam, quase que tombam para os lados, mas resistem de pé. Os janelões de tábuas irregulares, cheias de emendas e remendos. O travamento sem estética das vigas de aroeira. Esse conjunto somado é que faz a beleza dum casarão histórico.
Mas nos dias atuais, quem compra um casarão antigo tem como primeira providência escorar a fachada e derrubar todo o resto. Na frente é uma belezura, digno dum cenário de filme antigo, mas por dentro nada mais resta de original.
Num espetacular artigo publicado no jornal Diário da Manhã do dia 3.11.2011, na página 3, o arquiteto Garibaldi Rizzo nos fala das memórias da sua infância da Cidade de Goiás e analisa os casarões de lá com o ponto de vista técnico:
“Denomina-se arquitetura vernacular a todo o tipo de arquitetura em que se empregam materiais e recursos do próprio ambiente em que a edificação é construída. Desse modo, ela apresenta caráter local ou regional. A cidade de Goiás é um exemplo desse tipo de arquitetura, uma vez que foi erguida aproveitando as pedras de sua região, a madeira, as taipas de mão e de pilão, e o adobe, que aproveitam os recursos do próprio terreno para erguer as edificações.
(…)
“Embora modesta, a arquitetura tanto pública quanto civil forma um todo harmonioso, graças ao uso coerente de materiais locais e técnicas vernaculares.
“Trata-se de excepcional testemunho do modo pelo qual exploradores e fundadores de cidades portuguesas e brasileiras, isoladas dos principais centros urbanos, adaptaram modelos portugueses, arquitetônicos e urbanos, às difíceis condições da região tropical.
(…)
“A arquitetura residencial implantada na cidade é, em geral, de casas térreas, sendo raros os sobrados, e de fachada sem muita variedade somando 485 imóveis na zona de conservação. Internamente os cômodos se organizam ao longo de corredores lateral ou longitudinal central. Os longos quintais possibilitam casas de maiores dimensões, mas, via de regra, os cômodos da frente são os de convívio social, os do meio para áreas íntimas e os dos fundos destinados aos serviços.
(…)
Quantas lembranças me trazem o interior destes casarios, o quarto do meio, as tramelas, as dobradiças rangedeiras, a pedra do Rio Bagagem que serve de encosto para a porta do meio...”
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