O poder do otimismo


Esta semana fui pela primeira e última vez a um restaurante. Como estava sozinho, perguntei ao garçom qual a porção de determinado prato, ele me respondeu e fiz o pedido. Ocorre que a quantidade de comida que veio, diferente do que havia me informado, era o dobro. Eu não iria comer tudo aquilo. Chamei o responsável e o responsável pelo responsável, mas ninguém arredou pé. Pediu, tem que comer. Como não sou de discussão, mandei embalar numa quentinha a outra metade que não havia pedido. Prato sofisticado, não iria deixar de graça para os garçons! Restaurante chique, todo mundo com olhares pasmos em mim, mas ainda assim sai com a quentinha.

Que vou fazer com toda essa comida?!, pensei. Entretanto, antes de chegar ao carro, vi numa praça um senhor com uma criança de uns quatro ou cinco anos de idade. Era um catador de papel, desses que empurram carrinhos pelas ruas. Aproximei-me, contei-lhe a história e perguntei se desejava aquela comida. Ele aceitou e com os olhos umedecidos me disse:

O senhor deve ser um anjo enviado por Deus.

Tratei logo de desmentir. Anjo, eu?! Pobre de mim!

Mas por que diz isso?! fiquei curioso

Sou viúvo, crio essa criança sozinho. É que hoje não consegui catar papel suficiente. Já são três da tarde e não comemos nada. Há pouco meu filho me disse que estava com muita fome. Cortou meu coração, mas não sabia o que fazer. Aquele restaurante de onde o senhor saiu joga comida no lixo, misturada com serragem, que é para ninguém comer. E se eu for lá pedir, eles me expulsam .
Mas isso é um absurdo indignei-me.
Eu sou um otimista. De repente um pensamento me ocorreu. Então disse ao meu filho que Deus mandaria um anjo para trazer comida para a gente. E que seria a comida mais gostosa que ele já provou na vida. Isso foi há dez minutos atrás.

Não sou nenhum anjo, obviamente, mas acredito que a fé daquele homem me atraiu para ele. Se eu fosse uma pessoa estourada, teria discutido lá no restaurante, chamado os órgãos do consumidor etc. Mas também não teria ajudado aquele pai otimista, que não deixava transparecer ao filho suas fraquezas e medos. Nos olhos do menino, vi que seu pai é seu herói. E o meu também.

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