Reflexão


Temos que repensar alguns conceitos, depois dos tristes acontecimentos da Festa do Divino de Pirenópolis de 2011.

O folclore é uma flor muito sensível, que só sobrevive numa determinada região, e uma vez maculada, morre sem remédio que a cure. Por isso, repensemos se vale a pena tocar numa manifestação cultural espontânea de um povo, seja qual for o motivo.

Nossa Festa do Divino já perdeu muito do seu glamour. Cito aqui o exemplo do tocador de caixa que saía pela madrugada, num som ritmado, convocando para o ensaio das Cavalhadas, que o pirenopolino associou à onomatopeia: “vamo pro campo cavaleiro, vamo pro campo cavaleiro”. Depois que Ramiro morreu, essa figura desapareceu e é pouco provável que a ressuscitem. Outro exemplo é o Batalhão de Carlos Magno, que vive apenas na lembrança dos antigos, e que nada mais era que Cavalhadas à pé, embora com riquíssima coreografia.

Na intensão de conter a violência, o Ministério Público protocolou uma ação civil pública e mandou citar o Município de Pirenópolis. O Juiz de Direito sentenciou no sentido de limitar o deslocamento da figura folclórica dos Mascarados. Acontece que o pirenopolino se recusou a cumprir a sentença judicial, da qual não foi citado para se defender, e para não se submeter a uma possível interferência da força policial, tirou os Mascarados da festa. Foi um protesto pacífico, silencioso, breve.

Uma liminar obtida numa ação cautelar inominada fez ressurgir a alegria no povo triste e acabrunhado. De repente, foi como se o Brasil vencesse a Copa do Mundo de Futebol. Uma energia boa percorreu a arquibancada e os camarotes. Na terça-feira da Festa, as pessoas se abraçavam nas ruas, riam, choravam de alegria, parecia que era todo mundo amigo íntimo ou parente.

Não houve nenhuma ocorrência mais séria, os Mascarados desarrearam seus animais logo que anoiteceu e a população foi para suas casas. A espontaneidade dos festejos é isso. Não é preciso que uma norma seja regulamentada, pois ela já vive nos usos e costumes do povo pirenopolino (direito consuetudinário).

Vamos repensar com boa vontade os últimos acontecimentos e cuidar para que a flor do folclore não se extingua, pois ela deve se multiplicar até virar um jardim multicolorido.

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