Uma das raras coisas boas que a TV proporcionou ao grande público foi a aproximação com a música clássica no final dos anos 80, os três tenores: o italiano Pavarotti, o madrilenho Plácido Domingo e o catalão José Carreras.
Mesmo quem nunca visitou a Espanha conhece a rivalidade existente entre os Catalães e os Madrilenhos, onde os primeiros lutam por sua independência da Espanha.
Carreras e Plácido não fugiram à regra, e em 1984, por questões políticas, tornaram-se inimigos. Sempre muito requisitados em todas as partes do mundo, ambos faziam constar em seus contratos que só se apresentariam em determinado show se o desafeto não fosse convidado!
Em 1987 Carreras ganhou um inimigo muito mais implacável que Plácido Domingo, foi surpreendido com um diagnóstico terrível: leucemia. Sua luta contra o câncer foi sofrida e persistente. Submeteu-se a vários tratamentos, como auto-transplante de medula óssea e troca de sangue, obrigando-o a viajar sempre aos Estados Unidos.
Nessas condições não podia trabalhar e os altos custos das viagens e tratamento rapidamente minguaram suas finanças. Quando não tinha mais condições financeiras, chegou até ele a notícia da existência da Fundación Hermosa de Madrid, cuja finalidade era o tratamento gratuito de leucêmicos! Graças ao apoio dessa fundação, ele venceu a doença e voltou a cantar!
Claro que, recebendo novamente os altos cachês, associou-se à Fundação e, lendo seu estatuto, descobriu que seu fundador, colaborador e presidente era o desafeto Plácido Domingo, que criara a entidade apenas para atender Carreras e se mantivera no anonimato para não constrangê-lo.
Num imenso show de Plácito Domingos em Madrid, Carreras interrompe o evento, se ajoelha no palco e canta um pedido de perdão. Plácido levanta-o, e com um forte abraço, os dois selam naquele instante o início de uma grande amizade!
(Publicado na revista espanhola Maria Teresa Casadei, abril/2000)
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