A morte de Osama bin Laden

 

     Muito devemos aprender com a notícia veiculada mundo afora sobre a morte do terrorista Osama bin Laden, um dos homens mais odiados da história, esteriótipo do mal, ainda que essa imagem demoníaca tenha sido cuidadosamente trabalhada para servir a certos fins. É o caso da busca de fundamento para o oceano de dinheiro que se gasta por aí no afã de deter “terroristas”.

      Por conta da propaganda do governo dos EUA, Laden se tornou um super-terrorista, onipresente, onisciente e com incalculável capacidade de produzir o mal. Dessa forma, obviamente, justificou-se a derrama de verbas públicas nas ações anti-terroristas, em detrimento de orçamentos cada vez mais apertados para as áreas sociais, já que é notório o crescimento assustador das crises financeiras mundiais.

      O homem moderno, no entanto, deve ser um pensador crônico, capaz de diferenciar no bombardeio dos noticiários diários, o que é possivelmente verdade e o que foi “criado” para algum fim. Ver o presidente norte-americano na televisão anunciar a morte do terrorista e depois o povo comemorar essa mesma morte, de certa forma, é rever a sempre atualíssima política do “pão e circo” da velha Roma. Que me importa se morrem os gladiadores, minha barriga está cheia!

      O que Barack Obama anunciou, na verdade, foi que seu eficiente time de agentes especiais, treinados pela elite do maior exército do mundo, extirpou o órgão enfermo, lançou fora a maçã podre, e agora seu povo pode respirar em paz. Ufa! Viva Obama, vivam os Estados Unidos!

      Uma vitória desse porte, da maior democracia do mundo, obviamente que tem o poder de apagar qualquer questionamento inoportuno. Por exemplo, vocês simplesmente toparam com o bin Laden lá no Afeganistão? Não, responderão. Fizemos um delicado trabalho de inteligência que nos propiciou descobri-lo. Ah, bom! Mas que “inteligência” foi essa? A essa pergunta respondeu-nos o chefe da CIA, a agência de inteligência deles, ao confessar que torturaram, através de afogamento induzido, alguns prisioneiros em Guantánamo (aquela prisão horripilante que o Obana quis fechar mas não deixaram, ou ele desistiu, não sei bem).

      Devagar, os fatos começam a aparecer. Com a finalidade mais que justificada de “podar a erva-daninha”, os soldados norte-americanos nem notaram que esbarraram na estante da Biblioteca da Humanidade, aquela construída pela doação das experiências comuns de todos os povos da história. E ao esbarrar (distraídos soldados!) lançaram ao chão e pisaram (certamente que sem ver!) nas cartas das Nações Unidas, nos pactos sociais, nos princípios que norteiam o respeito à nacionalidade e à soberania. Enfim, o mundo é o quintal dos Estados Unidos. Amém!

      O preconceito são tabus supersticiosos, que de tanto se repetirem, acabam por se tornarem verdades incontestes. Assista aos filmes norte-americanos e você verá que África e América Latina são redutos de pobres, vadios, com ondas de gangues sujas e violentas, sem respeito aos direitos humanos. O artista principal, galã hollywoodiano, geralmente consegue escapar desse verdadeiro inferno, toma o avião e pousa em segurança no pacífico solo de Nova Iorque.

      Aqui, no chamado terceiro mundo, está o mal; lá no primeiro, o bem. E se eles resolvem quebrar o esteriótipo, inverter essa ordem, é preciso algo muito forte que o justifique. É aí que entra o “malvado” Osama bin Laden. Para capturá-lo, obviamente, tiveram que transgredir “de leve” algumas regrinhas básicas, aquelas inconvenientes lá na estante da Biblioteca da Humanidade, que o distraído soldados derrubou.

      E começou a caçada à bruxas!

     Atravessaram fronteiras internacionais sem permissão. Invadiram residências sem mandado judicial. Prenderam pessoas sem ordem legal e as mantiveram presas sem acusação formal. Torturam, maltrataram, violentaram, aleijaram e até mataram qualquer um tido como “terrorista”, conceito amplo, indefinido e conveniente.

      Quer saber, Obama sentirá falta de Osama. Será que foi um bom negócio desfazer-se duma peça tão importante no tabuleiro, apenas para alavancar uma popularidade em baixa? E agora quem vai justificar as ações dos Estados Unidos mundo afora? Já falam num sucessor de Laden, mas essa fórmula já anda meio desgastada, e o pão que jogaram azedou o povo que o comeu.

      Quem sabem uma apoteótica “ressurreição” hollywoodiana seja a solução?!

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